sábado, 2 de outubro de 2010

O último cine drive-in do Brasil.

A palavra “drive” é utilizada para muitas coisas hoje em dia. A principal e mais conhecida são para os pedidos feitos de dentro do carro nas redes de fast-food (diga-se McDonalds com seus drive-thru). Mas, entre outras, há ainda a utilização do termo “drive-in”em motéis e do “drive through” até mesmo por uma rede de igreja evangélica como “uma forma divina de escapar dos congestionamentos” em uma movimentada via de São Paulo. No último caso, o motorista fiel corta um pouco da fila e recebe a benção do pastor. Entretanto, o precursor de tudo isso foi o cinema drive-in, assunto dessa matéria.
Apesar de pouco conhecida, a idéia de ir ao cinema e assistir o filme sem sair do carro é bem antiga. O primeiro drive-in que se tem notícia foi criado na cidade americana de Nova Jersey, em 1933 e, mesmo numa época em que os veículos eram razoavelmente raros, os “estacionamentos” lotavam de Ford T e a novidade acabou pegando. Tanto que em 1940 já existiam cerca de 1.500 cinemas do gênero espalhados em terras norte-americanas.
A novidade chegou ao Brasil e agradou muita gente. Não fez tanto sucesso quanto na terra do Tio Sam, mas na década de 70, a maioria das capitais brasileiras tinha seus cineminhas a céu aberto. Dentre todos esses, restou apenas um, fundado em 1973: é o “Cine Drive-in”, de Brasília.
Construído no estacionamento do Autódromo de Brasília, o empreendimento não poderia ter um lugar melhor para ser criado. O moderno projetor com luz de Xenon é voltado para uma tela gigante com 312m² de concreto, em um espaço que cabem 500 carros. O local conta ainda com uma garçonete e uma garagem especial para acessar o banheiro – um bom recurso em dias chuvosos.
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The Basement Theatre
Drive InFuncionamento
Quem nunca foi em um cinema desses, certamente estranhará algumas regras básicas. A primeira é que, magicamente, o som do cinema sairá do auto-falante do próprio carro – basta sintonizar a frequência FM correta (88,7). Ou então solicitar caixinhas de som se carro não possuir rádio. 
Pra quem quer fazer um pedido ao garçom (e não ser surpreendido ou levar o susto de um), que ligue o farolete baixo. Farol alto nunca. E, se estiver em perigo, o pisca-alerta é a solução.
São inúmeras as vantagens para os que vão ao drive-in. Em nenhum outro cinema é possível assistir ao filme enquanto come um sanduíche acompanhado de uma porção de fritas e uma garrafa de vinho, com a possibilidade de fumar e atender celular. Expressar emoções aqui, como fazer comentários em voz alta, falar mal, fofocar ou chorar, não será um problema. E os que possuem excesso de gordura podem assistir confortavelmente, com a possibilidade até mesmo de ir de pijama e pantuflas.
Entretanto, mesmo com tudo bem explícito de que se trata de um CINEMA, há alguns espertinhos que talvez utilizem outro prefixo diante do termo drive-in (já citado no primeiro parágrafo). Esse pessoal geralmente estaciona o carro no cantinho mais afastado e, de uma maneira estranha, parecem pular dentro do carro para tentar assistir ao filme com o vidro embaçado. O problema é se o farolete ou o pisca for acionado acidentalmente...
Apesar de todos os benefícios desse estilo diferente de acompanhar os últimos lançamentos do mercado cinematográfico, o público é muito escasso. Competindo com cerca de 70 salas de cinema na capital federal, a média é de 10 carros de segunda a sexta, aumentando um pouco nos fins de semana com as seções infantis. Com isso, a proprietária Marta Fagundes leva o drive-in mais como um hobbie, já que os valores arrecadados servem apenas para pagar as dívidas e as contas do negócio, não se consolidando como uma fonte de renda.

Um comentário:

  1. Ontem fui pela primeira vez no cine drive-in de Brasília. Moro aqui há poucos anos, e fiquei surpresa e empolgadíssima quando descobri que existia um drive-in em funcionamento em pleno século XXI, já que nunca ouvi falar de outro cine deste tipo no Brasil. Subir a rampinha de acesso ao cinema é fantástico, a sensação é de estar entrando em um portal retrô a te levar para um tempo distante. Com certeza voltarei lá muitas vezes, para curtir um clima vintage, com a nostalgia daquilo que nunca se viveu!
    PS: ponto extra comigo: o cine drive-in de Brasília é uma micro-empresa, nada de ficar pagando os lucros de grandes corporações do tipo Kinoplex e cia. E o preço só é o preço dos outros cinemas porque pouca gente conhece e frequenta o drive-in..

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